RAFAEL PEREIRA
CURADORIA TIAGO SANT’ANA
CURADORIA TIAGO SANT’ANA
RAFAEL
PEREIRA
RAFAEL
PEREIRA
DE 13 NOVEMBRO DE 2023 A 20 JANEIRO DE 2024 - SEGUNDA A SEXTA 11H ÀS 19H - SÁBADO 11H ÀS 15H - DOMINGO FECHADO -
DE 13 NOVEMBRO DE 2023 A 20 JANEIRO DE 2024 - SEGUNDA A SEXTA 11H ÀS 19H - SÁBADO 11H ÀS 15H - DOMINGO FECHADO -
Primeira mostra individual
de Rafael Pereira na Galeria Estação, "LAPIDAR IMAGENS" celebra a altivez da negritude e dialoga com a estética provocativa do retrato modernista
Com curadoria de Tiago Sant’Ana, a exposição reúne 20 óleos sobre tela e apresenta uma produção pictórica fortemente marcada pelas vivências do artista paulistano em diversas
viagens ao redor do Brasil.
Primeira mostra individual
de Rafael Pereira na Galeria Estação,
"LAPIDAR IMAGENS" celebra a altivez
da negritude e dialoga com a estética
provocativa do retrato modernista
Com curadoria de Tiago Sant’Ana, a exposição
reúne 20 óleos sobre tela e apresenta uma
produção pictórica fortemente marcada pelas
vivências do artista paulistano em diversas
viagens ao redor do Brasil.
VILMA EID
Dando continuidade à vocação da Galeria Estação de descobrir e mostrar novos talentos, apresentamos o artista Rafael Pereira, natural de São Paulo, morador em Caraguatatuba, estado de São Paulo.
Foram o colecionador Edmar Pinto Costa e a artista visual Germana Monte-Mór que primeiro viram e me apresentaram o trabalho de Rafael. Percebi nele um talento natural que deveria ser incentivado e exibido. Gosto de mostrar esses jovens e dar a eles a oportunidade para que possam se expressar.
No final de 2021 começamos a comprar obras do Rafael para nosso acervo com o objetivo de oferecer ao público a primeira exposição dele, que agora apresentamos, com curadoria do artista plástico e curador Tiago Sant’Ana. Venha conferir!
Exposição
Rafael Pereira
Curadoria
Tiago Sant'ana
Diretora
Vilma Eid
Local
Galeria Estação
VILMA EID
Dando continuidade à vocação da Galeria Estação de descobrir e mostrar novos talentos, apresentamos o artista Rafael Pereira, natural de São Paulo, morador em Caraguatatuba, estado de São Paulo.
Foram o colecionador Edmar Pinto Costa e a artista visual Germana Monte-Mór que primeiro viram e me apresentaram o trabalho de Rafael. Percebi nele um talento natural que deveria ser incentivado e exibido. Gosto de mostrar esses jovens e dar a eles a oportunidade para que possam se expressar.
No final de 2021 começamos a comprar obras do Rafael para nosso acervo com o objetivo de oferecer ao público a primeira exposição dele, que agora apresentamos, com curadoria do artista plástico e curador Tiago Sant’Ana. Venha conferir!
Exposição
Rafael Pereira
Curadoria
Tiago Sant'ana
Diretora
Vilma Eid
Local
Galeria Estação
RAFAEL PEREIRA
Desde 2010, Rafael Pereira dedica-se exclusivamente à prática artística, que encontra na pintura o seu principal foco de interesse. De forma autodidata, desenvolveu uma linguagem própria de retratar as coisas do mundo ao seu redor, que emergem para a tela como num esvaziamento de si mesmo, promovendo um encontro com um eu até então desconhecido. Esse repertório iconográfico próprio serve de matéria prima para criar novas narrativas para seus retratos, paisagens e naturezas mortas, já que o artista se faz valer do peso histórico desses gêneros clássicos da pintura ocidental para revisitar ambientes dos quais visitou, as paisagens que já observou e as pessoas que conheceu. Segundo ele, uma maneira de unir dois tempos: o passado e o presente.
Seu processo de criação acontece de maneira espontânea. A experimentação impõe o ritmo de produção, que não sofre limites ou regras predeterminadas. As cores, eleitas num primeiro momento pelo artista, ditam o caminho e dão forma às ideias de figuração, que até então residiam apenas em sua memória. As possibilidades cromáticas encantam e inspiram Rafael Pereira na busca pela tonalidade ideal, o que torna cada detalhe único dentro da sua pintura.
Embora meticulosamente elaboradas, suas narrativas são construídas com elementos pontuais, harmonizados no campo pictórico através das cores e texturas propostas pelo artista. Elas retratam a forma como ele próprio percebe a realidade e constroem uma visão de mundo particular, onde o contexto é tão importante quanto o objeto principal. Atualmente, o retrato representa grande parte da sua produção, onde a construção de cada personagem parte da memória. Elas são reais, amigos, parentes e conhecidos, mas ganham contornos de ficção por meio de particularidades inventadas por ele. Nesse cenário, tudo é importante e único: cada linha do rosto, cada expressão, cada estampa da roupa, cada textura, cada objeto, cada olhar.
Ainda adolescente, em Teófilo Otoni (MG), Rafael Pereira especializou-se no ofício de lapidação de pedras. Com 17 anos de idade, começou a praticar a pintura e o desenho, experimentando com tinta a óleo, giz pastel e nanquim. Com esses anos de experiência aprendeu que confeccionar sua própria tela oferece não apenas autonomia, mas sobretudo uma conexão inicial com o trabalho, importante para abrir os caminhos da composição. Num segundo momento, a superfície do tecido de algodão é impermeabilizada com uma base de tinta acrílica e cola branca, tornando-a pronta para receber as camadas e camadas de tinta a óleo, aplicadas com espátulas e pincéis diferentes, respeitando as texturas específicas que se pretende atingir. Esse processo todo deve ser acompanhado da luminosidade perfeita, já que a luz que incide sobre a tela acaba fazendo parte do corpo da obra. Ela é fundamental para atribuir a ambiência buscada pelo artista para a pintura. Para ele, o ambiente natural de onde reside, Caraguatatuba (litoral norte de São Paulo), é o cenário perfeito.
Nos últimos dois anos, Rafael Pereira também tem se dedicado ao desenvolvimento de uma série de pinturas a partir de fundamentos da cosmovisão afro-brasileira. Adepto do Candomblé, religião africana intrinsecamente ligada à natureza, ele se inspira nos ex-votos (esses pequenos objetos doados aos santos católicos como forma de agradecimento pelos pedidos atendidos) para produzir pinturas que retratam cabeças de barro ligadas a símbolos africanos. As cores, nesse caso, seguem uma leve monocromia terrosa para estabelecer uma conexão direta com a terra, o que também remete à importância da cultura dos povos indígenas.
RAFAEL PEREIRA
Desde 2010, Rafael Pereira dedica-se exclusivamente à prática artística, que encontra na pintura o seu principal foco de interesse. De forma autodidata, desenvolveu uma linguagem própria de retratar as coisas do mundo ao seu redor, que emergem para a tela como num esvaziamento de si mesmo, promovendo um encontro com um eu até então desconhecido. Esse repertório iconográfico próprio serve de matéria prima para criar novas narrativas para seus retratos, paisagens e naturezas mortas, já que o artista se faz valer do peso histórico desses gêneros clássicos da pintura ocidental para revisitar ambientes dos quais visitou, as paisagens que já observou e as pessoas que conheceu. Segundo ele, uma maneira de unir dois tempos: o passado e o presente.
Seu processo de criação acontece de maneira espontânea. A experimentação impõe o ritmo de produção, que não sofre limites ou regras predeterminadas. As cores, eleitas num primeiro momento pelo artista, ditam o caminho e dão forma às ideias de figuração, que até então residiam apenas em sua memória. As possibilidades cromáticas encantam e inspiram Rafael Pereira na busca pela tonalidade ideal, o que torna cada detalhe único dentro da sua pintura.
Embora meticulosamente elaboradas, suas narrativas são construídas com elementos pontuais, harmonizados no campo pictórico através das cores e texturas propostas pelo artista. Elas retratam a forma como ele próprio percebe a realidade e constroem uma visão de mundo particular, onde o contexto é tão importante quanto o objeto principal. Atualmente, o retrato representa grande parte da sua produção, onde a construção de cada personagem parte da memória. Elas são reais, amigos, parentes e conhecidos, mas ganham contornos de ficção por meio de particularidades inventadas por ele. Nesse cenário, tudo é importante e único: cada linha do rosto, cada expressão, cada estampa da roupa, cada textura, cada objeto, cada olhar.
Ainda adolescente, em Teófilo Otoni (MG), Rafael Pereira especializou-se no ofício de lapidação de pedras. Com 17 anos de idade, começou a praticar a pintura e o desenho, experimentando com tinta a óleo, giz pastel e nanquim. Com esses anos de experiência aprendeu que confeccionar sua própria tela oferece não apenas autonomia, mas sobretudo uma conexão inicial com o trabalho, importante para abrir os caminhos da composição. Num segundo momento, a superfície do tecido de algodão é impermeabilizada com uma base de tinta acrílica e cola branca, tornando-a pronta para receber as camadas e camadas de tinta a óleo, aplicadas com espátulas e pincéis diferentes, respeitando as texturas específicas que se pretende atingir. Esse processo todo deve ser acompanhado da luminosidade perfeita, já que a luz que incide sobre a tela acaba fazendo parte do corpo da obra. Ela é fundamental para atribuir a ambiência buscada pelo artista para a pintura. Para ele, o ambiente natural de onde reside, Caraguatatuba (litoral norte de São Paulo), é o cenário perfeito.
Nos últimos dois anos, Rafael Pereira também tem se dedicado ao desenvolvimento de uma série de pinturas a partir de fundamentos da cosmovisão afro-brasileira. Adepto do Candomblé, religião africana intrinsecamente ligada à natureza, ele se inspira nos ex-votos (esses pequenos objetos doados aos santos católicos como forma de agradecimento pelos pedidos atendidos) para produzir pinturas que retratam cabeças de barro ligadas a símbolos africanos. As cores, nesse caso, seguem uma leve monocromia terrosa para estabelecer uma conexão direta com a terra, o que também remete à importância da cultura dos povos indígenas.
TIAGO SANT'ANA
Uma mulher está sentada numa cadeira de madeira, com o olhar fixo para a frente, como quem encara o horizonte. Os cabelos são volumosos e estão elegantemente penteados para a parte de trás da cabeça. Suas duas mãos se encontram ao se encostarem no braço da cadeira. As vestes carregam tons de branco com detalhes serpenteados em rosa e verde, contrastando com um pedaço de parede logo atrás dela que carrega padrões geométricos em tons avermelhados terrosos. O muro serve como divisória para que, ainda mais ao fundo da imagem, vejamos uma paisagem com um céu densamente azul que se contém acima de um vibrante panorama de pequenos morros verdes e amarelados.
A imagem descrita é uma das telas compostas pelo artista paulistano Rafael Pereira. O esforço por realizar uma descrição minuciosa dessa pintura está diretamente proporcional à quantidade de atenção aos detalhes que o artista insere em seus trabalhos, compondo de maneira sofisticada uma visualidade que põe em tangência algumas das linguagens tradicionais da pintura: o retrato, a paisagem e a natureza-morta. No entanto, embora recorra a essas consagradas trilhas visuais da História da Arte, Pereira o faz de modo específico ao implementar de maneira intercambiada essas visualidades e as interpreta a partir de seu próprio repertório pictórico brasileiro, através de pinceladas vigorosas e um cromatismo que alterna vibração –presente em verdes e azuis – com cores mais sóbrias, principalmente no branco e no marrom.
Rafael Pereira nasceu em São Paulo, em 1986, e começou a pintar de maneira autodidata aos 18 anos, quando ganhou de presente de aniversário um conjunto de tintas e papéis. Contudo, é a partir dos 23 anos de idade que, em tempo integral, se dedica à pintura. Apesar de ter nascido na capital paulista, Pereira transitou em diversas cidades e geografias brasileiras, como as cidades de Novo Airão, no Amazonas, Ouro Preto e Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Pontal do Paraná, no sul do país, até chegar em Caraguatatuba, no litoral paulistano, onde hoje vive e trabalha. Esse percurso por diversos lugares fez com que Pereira se constituísse como um observador dos trânsitos humanos e das mutações das paisagens, acumulando, ao longo da sua vida, memórias afetivas e artísticas que lhe possibilitaram possuir um complexo repertório visual, agora apresentado por meio de uma pintura marcada por uma vitalidade e uma elegância cromática.
Os retratos apresentados pelo artista, recorrentemente, possuem um binômio dentro/interno-fora/externo, na medida em que, embora ele esteja interessado em realizar composições em que rostos figurem em uma posição de centralidade, também o entorno da pessoa retratada tem uma preponderância para dar mais sentido visual e conceitual à obra. Talvez essa predileção tenha relação com o fato de o artista ensejar localizar os personagens dentro de um cenário ou mesmo de um ethos. O fundo da pintura, na linguagem de Pereira, não é apenas uma maneira de destacar a figura, e sim uma ação de revelar mais um dado semântico para a obra – já que em alguns momentos se descortinam, por exemplo, a textura do mar ou casarios históricos, paisagens geográficas que fazem parte do imaginário e do lugar afetivo do artista.
Pereira, ao realizar retratos e ao pintar paisagens que muitas vezes são reconhecidas como “cenários brasileiros”, vem na esteira de uma tradição retratista brasileira moderna. No entanto, o jovem artista paulistano cria uma cisão com essa mesma escola modernista: a de retratar o Outro, ocasionalmente, de maneira exotizante e estereotipada. Como as pinturas de Rafael têm como ponto de partida as suas memórias visuais bem como uma produção que pode ser analisada na chave do que hoje se chama de “arte afro-brasileira”, o artista tece os seus trabalhos a partir do campo do afeto, sendo suas figuras sensivelmente familiares ao seu próprio pertencimento sociorracial.
Outro dado biográfico fundamental para entendermos o conjunto da obra de Rafael Pereira é o fato de ele ter trabalhado, como uma das suas primeiras profissões, no exercício de lapidador de pedras preciosas – ofício aprendido em Minas Gerais, local que historicamente ficou marcado por toda a exploração das pedras preciosas e pela sua forte identidade ligada ao Barroco (presente em casarios e igrejas) e às identidades afro-brasileiras. Ao nos aproximarmos das obras apresentadas na primeira exposição do artista na Galeria Estação – que o artista dedica à sua mãe Maria do Carmo Alves Jardim e à memória do seu pai Dilson Pereira Ramalho – notamos que essa experiência com o fazer da lapidação reflete no esmero do gesto artístico, na medida em que ele se debruça na elaboração dos detalhes e minúcias, presentes especialmente em estamparias de roupa, fundos de paisagem ou na construção de espécies de ornamentos em volta ou em uma posição lateral às pessoas retratadas.
Isso nos leva a pensar que Rafael Pereira apresenta como exercício artístico não somente um fecho de luz do seu tempo, o que o constitui como um artista do contemporâneo capaz de refletir sobre sua própria realidade, mas também um lapidador de imagens que, ao seu modo, constitui arestas e bordas, regiões de luz e sombra, relevos mais brilhantes e mais foscos, agora, utilizando telas, tintas a óleo e pinceis, na construção de um universo próprio que, longe de se preocupar em revisitar cânones representacionais do moderno, nos põe a ver o afeto, a singeleza e a cor como pulsões de vida.
TIAGO SANT'ANA
Uma mulher está sentada numa cadeira de madeira, com o olhar fixo para a frente, como quem encara o horizonte. Os cabelos são volumosos e estão elegantemente penteados para a parte de trás da cabeça. Suas duas mãos se encontram ao se encostarem no braço da cadeira. As vestes carregam tons de branco com detalhes serpenteados em rosa e verde, contrastando com um pedaço de parede logo atrás dela que carrega padrões geométricos em tons avermelhados terrosos. O muro serve como divisória para que, ainda mais ao fundo da imagem, vejamos uma paisagem com um céu densamente azul que se contém acima de um vibrante panorama de pequenos morros verdes e amarelados.
A imagem descrita é uma das telas compostas pelo artista paulistano Rafael Pereira. O esforço por realizar uma descrição minuciosa dessa pintura está diretamente proporcional à quantidade de atenção aos detalhes que o artista insere em seus trabalhos, compondo de maneira sofisticada uma visualidade que põe em tangência algumas das linguagens tradicionais da pintura: o retrato, a paisagem e a natureza-morta. No entanto, embora recorra a essas consagradas trilhas visuais da História da Arte, Pereira o faz de modo específico ao implementar de maneira intercambiada essas visualidades e as interpreta a partir de seu próprio repertório pictórico brasileiro, através de pinceladas vigorosas e um cromatismo que alterna vibração –presente em verdes e azuis – com cores mais sóbrias, principalmente no branco e no marrom.
Rafael Pereira nasceu em São Paulo, em 1986, e começou a pintar de maneira autodidata aos 18 anos, quando ganhou de presente de aniversário um conjunto de tintas e papéis. Contudo, é a partir dos 23 anos de idade que, em tempo integral, se dedica à pintura. Apesar de ter nascido na capital paulista, Pereira transitou em diversas cidades e geografias brasileiras, como as cidades de Novo Airão, no Amazonas, Ouro Preto e Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Pontal do Paraná, no sul do país, até chegar em Caraguatatuba, no litoral paulistano, onde hoje vive e trabalha. Esse percurso por diversos lugares fez com que Pereira se constituísse como um observador dos trânsitos humanos e das mutações das paisagens, acumulando, ao longo da sua vida, memórias afetivas e artísticas que lhe possibilitaram possuir um complexo repertório visual, agora apresentado por meio de uma pintura marcada por uma vitalidade e uma elegância cromática.
Os retratos apresentados pelo artista, recorrentemente, possuem um binômio dentro/interno-fora/externo, na medida em que, embora ele esteja interessado em realizar composições em que rostos figurem em uma posição de centralidade, também o entorno da pessoa retratada tem uma preponderância para dar mais sentido visual e conceitual à obra. Talvez essa predileção tenha relação com o fato de o artista ensejar localizar os personagens dentro de um cenário ou mesmo de um ethos. O fundo da pintura, na linguagem de Pereira, não é apenas uma maneira de destacar a figura, e sim uma ação de revelar mais um dado semântico para a obra – já que em alguns momentos se descortinam, por exemplo, a textura do mar ou casarios históricos, paisagens geográficas que fazem parte do imaginário e do lugar afetivo do artista.
Pereira, ao realizar retratos e ao pintar paisagens que muitas vezes são reconhecidas como “cenários brasileiros”, vem na esteira de uma tradição retratista brasileira moderna. No entanto, o jovem artista paulistano cria uma cisão com essa mesma escola modernista: a de retratar o Outro, ocasionalmente, de maneira exotizante e estereotipada. Como as pinturas de Rafael têm como ponto de partida as suas memórias visuais bem como uma produção que pode ser analisada na chave do que hoje se chama de “arte afro-brasileira”, o artista tece os seus trabalhos a partir do campo do afeto, sendo suas figuras sensivelmente familiares ao seu próprio pertencimento sociorracial.
Outro dado biográfico fundamental para entendermos o conjunto da obra de Rafael Pereira é o fato de ele ter trabalhado, como uma das suas primeiras profissões, no exercício de lapidador de pedras preciosas – ofício aprendido em Minas Gerais, local que historicamente ficou marcado por toda a exploração das pedras preciosas e pela sua forte identidade ligada ao Barroco (presente em casarios e igrejas) e às identidades afro-brasileiras. Ao nos aproximarmos das obras apresentadas na primeira exposição do artista na Galeria Estação – que o artista dedica à sua mãe Maria do Carmo Alves Jardim e à memória do seu pai Dilson Pereira Ramalho – notamos que essa experiência com o fazer da lapidação reflete no esmero do gesto artístico, na medida em que ele se debruça na elaboração dos detalhes e minúcias, presentes especialmente em estamparias de roupa, fundos de paisagem ou na construção de espécies de ornamentos em volta ou em uma posição lateral às pessoas retratadas.
Isso nos leva a pensar que Rafael Pereira apresenta como exercício artístico não somente um fecho de luz do seu tempo, o que o constitui como um artista do contemporâneo capaz de refletir sobre sua própria realidade, mas também um lapidador de imagens que, ao seu modo, constitui arestas e bordas, regiões de luz e sombra, relevos mais brilhantes e mais foscos, agora, utilizando telas, tintas a óleo e pinceis, na construção de um universo próprio que, longe de se preocupar em revisitar cânones representacionais do moderno, nos põe a ver o afeto, a singeleza e a cor como pulsões de vida.
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