RENATO RIOS

RENATO RIOS

RENATO RIOS

RENATO RIOS

RENATO RIOS

o elefante e a safira

CURADORIA Ana Carolina Ralston

o elefante e a safira

CURADORIA Ana Carolina Ralston

o elefante e a safira CURADORIA Ana Carolina Ralston

o elefante e a safira CURADORIA Ana Carolina Ralston

o elefante e a safira CURADORIA Ana Carolina Ralston

  • EXPOSIÇÃO DE 25 MARÇO A 30 ABRIL - SEGUNDA A SEXTA 11H ÀS 19H - SÁBADO 11H ÀS 15H - DOMINGO FECHADO -

  • EXPOSIÇÃO DE 25 MARÇO A 30 ABRIL - SEGUNDA A SEXTA 11H ÀS 19H - SÁBADO 11H ÀS 15H - DOMINGO FECHADO -

  • EXPOSIÇÃO DE 25 MARÇO A 30 ABRIL - SEGUNDA A SEXTA 11H ÀS 19H - SÁBADO 11H ÀS 15H - DOMINGO FECHADO -

  • EXPOSIÇÃO DE 25 MARÇO A 30 ABRIL - SEGUNDA A SEXTA 11H ÀS 19H - SÁBADO 11H ÀS 15H - DOMINGO FECHADO -

"O Renato nos escolheu.
Sim, Renato escolheu ser representado pela
Galeria Estação, e esta é a sua primeira individual conosco."

"O Renato nos escolheu.
Sim, Renato escolheu ser representado pela
Galeria Estação, e esta é a sua primeira individual conosco."

"O Renato nos escolheu.
Sim, Renato escolheu ser representado pela
Galeria Estação, e esta é a sua primeira individual conosco."

Vilma Eid

Vilma Eid

VILMA EID

Talentoso, carismático, Renato nos escolheu e imediatamente nos conquistou. Sua prosa reflete sua obra, que compreende um mundo que vai do real ao imaginário, cativando a todos com a sensação de ‘quero mais’. A escolha da Ana Carolina Ralston também foi dele. Como há tempos queríamos realizar um projeto com a curadoria dela, chegou o momento certo. Renato é tão primoroso e detalhista que construiu uma maquete para nos mostrar como pensava a exposição. Assim, nos convenceu a ocupar dois andares da galeria para mostrar sua dissertação visual.

VILMA EID

Talentoso, carismático, imediatamente conquistou toda a nossa equipe. Sua prosa reflete sua obra. Flui dissertando sobre um mundo que vai do real ao imaginário, cativando o ouvinte e deixando a sensação de "quero mais". A escolha da Ana Carolina Ralston foi dele. Acatamos, concordamos e, como há tempos queríamos realizar um projeto com a curadoria dela, o momento estava ali. Renato é tão primoroso e detalhista que construiu uma maquete para nos mostrar como pensava a exposição. Nos convenceu a ocupar dois andares da galeria para mostrar sua dissertação visual. O prazer do trabalho conjunto, Renato e Galeria Estação, apresentamos a vocês agora. Esperamos que vocês sintam a mesma energia leve e alto-astral que nos conduziu até aqui.

"Pela primeira vez sinto que reúno
em uma única mostra todos os
meus recursos técnicos e poéticos”

"Pela primeira vez sinto que reúno
em uma única mostra todos os meus
recursos técnicos e poéticos”
"Pela primeira vez sinto que reúno em
uma única mostra todos os meus
recursos técnicos e poéticos”

Renato Rios

Renato Rios

Renato Rios

SOBRE RENATO RIOS

1989, Brasília- DF. Vive e trabalha em São Paulo-SP

A trajetória artística de Renato Rios começou a se consolidar como uma vocação profissional a partir da sua experiência na Universidade de Brasília - UnB, onde estudou Artes Visuais, Filosofia e Letras. Essa formação multidisciplinar despertou nele um interesse duradouro pela complexidade da pós-modernidade, uma inquietação que continua a guiar sua pesquisa. A pintura e o desenho são os principais meios de expressão de Renato, que utiliza a tradição desses conceitos para explorar as possibilidades oferecidas. Ele estrutura poeticamente conceitos relacionados à representação, como luz, sombra e perspectiva, por meio da cor, especialmente utilizando tinta a óleo. Esse suporte proporciona a ele a tranquilidade necessária para respeitar o tempo individual de cada obra. É importante notar que a produção de Renato Rios é impulsionada pelas demandas profissionais. Cada desafio expositivo representa um passo adiante na maturação conceitual e formal de sua pesquisa. Em 2015, em Brasília, sua primeira exposição individual, "Doces Laranjais", marcou um ponto crucial em sua carreira. Nesse período, a categorização imposta entre gêneros clássicos da pintura perdeu relevância, enquanto a meticulosidade no uso das cores tornou-se uma característica fundamental em suas obras, principalmente através da pureza cromática. Em 2016, Renato mudou-se para São Paulo para participar do programa de residência artística da FAAP, onde teve a oportunidade de trabalhar com artistas como Laura Vinci e Paulo Pasta. Essa experiência e o contato mais próximo com obras de Mira Schendel, Kazimir Malevich, Brice Marden e Joseph Albers influenciaram diretamente seu trabalho. Assim, a pintura como objeto, o minimalismo e a pureza das cores tornaram-se elementos proeminentes na poética do artista, que ingressou em um estudo ainda mais aprofundado das cores como campos de significação, enquanto seu imaginário pessoal passou a coexistir nas telas com composições carregadas de um lirismo estruturado por pinceladas calculadas. A representação de ambientes povoados, a partir da articulação de diferentes signos e arquétipos, como figuras representativas cheias de significados e conceitos associados, dá sequência a uma nova fase da obra de Renato Rios. Nesses trabalhos, o artista sintetiza suas ideias em figuras geométricas simbólicas, em meio a ambientes cromáticos que enaltecem a vibração entre as cores, para tratar de assuntos como cosmologia e metafísica. Essas investigações renderam desdobramentos significativos para suas produções subsequentes. Em sua pesquisa mais recente, a cor mantém sua importância fundamental, coexistindo com suas próprias diferenças. Renato abandona a ideia de planura cromática, sobrepondo campos de cores em busca de uma representação mais autêntica das cores do mundo. Os elementos figurativos surgem conforme a sua curiosidade pelas forças da natureza e nosso papel na contemplação, integração e pertencimento.

sobre

renato rios

1989, Brasília- DF.

Vive e trabalha em São Paulo-SP

A trajetória artística de Renato Rios começou a se consolidar como uma vocação profissional a partir da sua experiência na Universidade de Brasília - UnB, onde estudou Artes Visuais, Filosofia e Letras. Essa formação multidisciplinar despertou nele um interesse duradouro pela complexidade da pós-modernidade, uma inquietação que continua a guiar sua pesquisa.

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sobre

renato rios

1989, Brasília- DF.

Vive e trabalha em São Paulo-SP

A trajetória artística de Renato Rios começou a se consolidar como uma vocação profissional a partir da sua experiência na Universidade de Brasília - UnB, onde estudou Artes Visuais, Filosofia e Letras. Essa formação multidisciplinar despertou nele um interesse duradouro pela complexidade da pós-modernidade, uma inquietação que continua a guiar sua pesquisa.

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"Rios propõe um estudo cromático voltado
aos universos vegetal, mineral e animal,
trazendo-nos de volta às raízes."

"Rios propõe um estudo
cromático voltado aos
universos vegetal,

mineral e animal,
trazendo-nos de
volta às raízes."

Ana Carolina Ralston

Ana Carolina

Ralston

Renato Rios: O elefante e a safira

Uma robusta elefante fêmea adentra o quarto. De forma majestosa e descomplicada, posta-se no ambiente, ocupando quase sua totalidade. Na esguia tromba, o animal segura com delicadeza uma safira reluzente do tamanho de uma maçã, que irradia com tanta potência sua cor que torna azul tudo que a rodeia. Composta de pinceladas brancas e contornada por um fino aro roxo, a pedra preciosa endossa a teoria do alemão Josef Albers (1888-1976), de que nossa percepção da cor depende inteiramente do contexto a que somos expostos. A cena descrita acima ocorreu durante um sonho do artista brasiliense Renato Rios nos meses que antecederam a chegada de sua filha, Aurora. O enredo fantástico transformou-se em tela e agora nomeia também sua primeira individual como artista representado pela Galeria Estação. Na parede oposta, localizada também no mezanino do espaço expositivo, está Grande Espirito. A pintura de grandes dimensões, feita no mesmo azul lisérgico que reforça a destreza de Rios no estudo da cor, atrai o espectador em sua direção, como se pudéssemos penetrar no portal mágico que se abre ao encará-la. Seu título nos indica um dos caminhos possíveis para desvendá-lo. O Grande Espirito, também conhecido como Wakan Tanka entre muitas culturas originárias das Américas, fala sobre o divino, o grande mistério da vida e para além dela. O Grande Espírito tem sido, muitas vezes, conceitualizado com uma divindade que nos conecta à espiritualidade, manifestando-se como o som do universo que tudo permeia, ressoando na pintura do artista por meio de finos círculos cromáticos que parecem vibrar uma espécie de melodia. Entre as duas potentes pinturas desdobram-se de cada lado 36 telas de pequenos formatos. Cada uma delas repercute como uma nota musical e, juntas, elas compõem uma sinfonia de cores que se desenrola de forma contínua, formando caminhos pelas laterais do espaço. Ao percorrê-las com nossos olhos, é como se nos déssemos conta de que tais telas nascem umas das outras em uma cadência poética e interconectada. Há um caráter instalativo na produção de Rios que se forma como um ouroboros, em que cada pintura nasce da outra, dando continuidade a um infinito círculo virtuoso. A expografia proposta pelo artista para os dois espaços da Galeria Estação enfatiza suas relações de experiência com a pintura. Enquanto a cor e sua abstração são protagonistas no mezanino, sugerindo uma vivência celestial ao espectador, no mundo terreno do andar térreo, Rios propõe um estudo cromático voltado aos universos vegetal, mineral e animal, trazendo-nos de volta às raízes. Dessa forma, vemos a cor como sujeito em diferentes formatos, como esgueirando-se por uma fresta ou frincha pela qual é possível acessar um lugar novo, um portal de contato entre sensações que circundam o céu e a terra. É por essa mesma passagem que também retornamos dessa experiência, em um movimento contínuo de ingresso e egresso, como a sístole e a diástole de um coração. Assim, as pinturas de Rios são, cada uma delas, passagens, portais de chegada e partida, de e para pontos de infinitas possibilidades que a luz, a paisagem e os seres animados e inanimados que nascem de suas tintas nos proporcionam. A pintura para Rios é o lugar onde o artista se realiza enquanto sujeito. Tempo e espaço no qual congrega faculdades nos campos analíticos e nos diferentes fenômenos da percepção. A prática o leva a um certo estado de espírito que promove seu caminho de autoaprimoramento. Também é por meio dela que consegue convergir distintos mundos, reais e imaginários. Dessa forma, ela reforça seu papel agregador, que possibilita a ele celebrar e também sintetizar vivências. É por meio dessa mídia que conecta-se com seu eu mais íntimo, um campo espiritual criativo do que acredita ser o essencial à vida. Em seu pensamento e também em sua produção, Rios sugere a união entre natureza e cultura, dois conceitos que costumamos ter como díspares, quase diametralmente opostos. A modernidade pautou-se por anos na dicotomia dessa ideia, como se a partir da construção de algo que nos alimenta intelectualmente nos distanciássemos de nossa origem, a terra. Segundo Merleau-Ponty (1908-1961), “no homem, tudo é natural e tudo é fabricado”. Somos uma junção do natural com o cultural, e isso talvez seja a singularidade, e, por que não, a potência e o assombro do Homo sapiens. É na afluência desses dois territórios que brotam entre as camadas de cores sobrepostas cuidadosamente homens que aparecem como pontes entre esses dois universos que nos compõem. Seja em repouso, com olhar firme no horizonte, ou em ação, remando pelas águas, o humano tal qual retratado por Rios não nos leva ao sentimento de confronto, mas sim à harmonia da coexistência física e mental entre natural e cultural, como defende Merleau-Ponty. A consonância de universos ganha força em tais figuras, que sugerem um encontro de distintas etnias, referências e ancestralidades. As escolhas do artista vão ao encontro do pensamento de Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), que em sua visão cosmológica diz que um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outros, ao contrário. Ele passa a ser ele mesmo e muitos rios, fortalecendo-se. “Quando a gente se confluencia, a gente não deixa de ser a gente, a gente passa a ser a gente e outra gente – a gente rende. A confluência é uma força que aumenta, que amplia.” Tal confluência na produção de Rios une visualidades, conecta os mundos figurativo e abstrato. E, como afirma Bispo, essa comunhão não faz com que a obra perca a potência, muito pelo contrário, ela soma-se, ganha contornos, relampejos, nuances, sabores distintos que só aqueles que estudam profundamente a alquimia das tintas conseguem alcançar. Entre as milhares de possibilidades da terra, nasce uma centena de aromas possíveis, que transitam nesse espaço de luz e sombra. Primeiramente, reconhecemos a força e a beleza dos tons específicos concebidos por Rios. É necessário tempo para alcançarmos o grau de miscigenação proposto pelo artista e que o leva a chegar a tais efeitos. Sua pintura nos conduz ao encantamento, eterniza a fração de segundo do movimento do pincel. Como disse Guimarães Rosa por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967, “O mundo é mágico: as pessoas não morrem, ficam encantadas.” E assim são as figuras que ocupam as telas do artista. Nas camadas figurativas também encontramos os animais, constantes em sua produção artística. Notamos a caminhada da tropa de cavalos, o movimento de suas crinas, a forma com que curvam seus cascos, acercam-se uns dos outros. Suas pinceladas nos recebem nessa paisagem criando movimento, fazendo surgir em nós o som das passadas e de tudo aquilo que não vemos, mas que percebemos existir em tal cena. Na mesma toada, cruza o lobo-guará, personagem frequente nas paisagens do cerrado, bioma tão próximo à vivência pessoal do artista. Outros seres também perpassam as telas do pintor, deixando sua presença flertar entre o real e o imaginário e colocando a pintura de Rios mais uma vez em perspectiva. Ali também encontramos outras referências de seu ambiente pessoal, como a artemísia, planta aromática e arbustiva com características medicinais. Do céu, caem as estrelas de múltiplas cores, que sistematicamente aparecem em suas obras, relembrando-nos da conexão entre divino e terreno, já que somos todos filhos da terra, do fogo, da água e do ar.

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Ana Carolina

Ralston

Renato Rios: O elefante e a safira

Uma robusta elefante fêmea adentra o quarto. De forma majestosa e descomplicada, posta-se no ambiente, ocupando quase sua totalidade. Na esguia tromba, o animal segura com delicadeza uma safira reluzente do tamanho de uma maçã, que irradia com tanta potência sua cor que torna azul tudo que a rodeia. Composta de pinceladas brancas e contornada por um fino aro roxo, a pedra preciosa endossa a teoria do alemão Josef Albers (1888-1976), de que nossa percepção da cor depende inteiramente do contexto a que somos expostos. A cena descrita acima ocorreu durante um sonho do artista brasiliense Renato Rios nos meses que antecederam a chegada de sua filha, Aurora. O enredo fantástico transformou-se em tela e agora nomeia também sua primeira individual como artista representado pela Galeria Estação. Na parede oposta, localizada também no mezanino do espaço expositivo, está Grande Espirito. A pintura de grandes dimensões, feita no mesmo azul lisérgico que reforça a destreza de Rios no estudo da cor, atrai o espectador em sua direção, como se pudéssemos penetrar no portal mágico que se abre ao encará-la. Seu título nos indica um dos caminhos possíveis para desvendá-lo. O Grande Espirito, também conhecido como Wakan Tanka entre muitas culturas originárias das Américas, fala sobre o divino, o grande mistério da vida e para além dela. O Grande Espírito tem sido, muitas vezes, conceitualizado com uma divindade que nos conecta à espiritualidade, manifestando-se como o som do universo que tudo permeia, ressoando na pintura do artista por meio de finos círculos cromáticos que parecem vibrar uma espécie de melodia. Entre as duas potentes pinturas desdobram-se de cada lado 36 telas de pequenos formatos. Cada uma delas repercute como uma nota musical e, juntas, elas compõem uma sinfonia de cores que se desenrola de forma contínua, formando caminhos pelas laterais do espaço. Ao percorrê-las com nossos olhos, é como se nos déssemos conta de que tais telas nascem umas das outras em uma cadência poética e interconectada. Há um caráter instalativo na produção de Rios que se forma como um ouroboros, em que cada pintura nasce da outra, dando continuidade a um infinito círculo virtuoso. A expografia proposta pelo artista para os dois espaços da Galeria Estação enfatiza suas relações de experiência com a pintura. Enquanto a cor e sua abstração são protagonistas no mezanino, sugerindo uma vivência celestial ao espectador, no mundo terreno do andar térreo, Rios propõe um estudo cromático voltado aos universos vegetal, mineral e animal, trazendo-nos de volta às raízes. Dessa forma, vemos a cor como sujeito em diferentes formatos, como esgueirando-se por uma fresta ou frincha pela qual é possível acessar um lugar novo, um portal de contato entre sensações que circundam o céu e a terra. É por essa mesma passagem que também retornamos dessa experiência, em um movimento contínuo de ingresso e egresso, como a sístole e a diástole de um coração. Assim, as pinturas de Rios são, cada uma delas, passagens, portais de chegada e partida, de e para pontos de infinitas possibilidades que a luz, a paisagem e os seres animados e inanimados que nascem de suas tintas nos proporcionam. A pintura para Rios é o lugar onde o artista se realiza enquanto sujeito. Tempo e espaço no qual congrega faculdades nos campos analíticos e nos diferentes fenômenos da percepção. A prática o leva a um certo estado de espírito que promove seu caminho de autoaprimoramento. Também é por meio dela que consegue convergir distintos mundos, reais e imaginários. Dessa forma, ela reforça seu papel agregador, que possibilita a ele celebrar e também sintetizar vivências. É por meio dessa mídia que conecta-se com seu eu mais íntimo, um campo espiritual criativo do que acredita ser o essencial à vida. Em seu pensamento e também em sua produção, Rios sugere a união entre natureza e cultura, dois conceitos que costumamos ter como díspares, quase diametralmente opostos. A modernidade pautou-se por anos na dicotomia dessa ideia, como se a partir da construção de algo que nos alimenta intelectualmente nos distanciássemos de nossa origem, a terra. Segundo Merleau-Ponty (1908-1961), “no homem, tudo é natural e tudo é fabricado”. Somos uma junção do natural com o cultural, e isso talvez seja a singularidade, e, por que não, a potência e o assombro do Homo sapiens. É na afluência desses dois territórios que brotam entre as camadas de cores sobrepostas cuidadosamente homens que aparecem como pontes entre esses dois universos que nos compõem. Seja em repouso, com olhar firme no horizonte, ou em ação, remando pelas águas, o humano tal qual retratado por Rios não nos leva ao sentimento de confronto, mas sim à harmonia da coexistência física e mental entre natural e cultural, como defende Merleau-Ponty. A consonância de universos ganha força em tais figuras, que sugerem um encontro de distintas etnias, referências e ancestralidades. As escolhas do artista vão ao encontro do pensamento de Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), que em sua visão cosmológica diz que um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outros, ao contrário. Ele passa a ser ele mesmo e muitos rios, fortalecendo-se. “Quando a gente se confluencia, a gente não deixa de ser a gente, a gente passa a ser a gente e outra gente – a gente rende. A confluência é uma força que aumenta, que amplia.” Tal confluência na produção de Rios une visualidades, conecta os mundos figurativo e abstrato. E, como afirma Bispo, essa comunhão não faz com que a obra perca a potência, muito pelo contrário, ela soma-se, ganha contornos, relampejos, nuances, sabores distintos que só aqueles que estudam profundamente a alquimia das tintas conseguem alcançar. Entre as milhares de possibilidades da terra, nasce uma centena de aromas possíveis, que transitam nesse espaço de luz e sombra. Primeiramente, reconhecemos a força e a beleza dos tons específicos concebidos por Rios. É necessário tempo para alcançarmos o grau de miscigenação proposto pelo artista e que o leva a chegar a tais efeitos. Sua pintura nos conduz ao encantamento, eterniza a fração de segundo do movimento do pincel. Como disse Guimarães Rosa por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967, “O mundo é mágico: as pessoas não morrem, ficam encantadas.” E assim são as figuras que ocupam as telas do artista. Nas camadas figurativas também encontramos os animais, constantes em sua produção artística. Notamos a caminhada da tropa de cavalos, o movimento de suas crinas, a forma com que curvam seus cascos, acercam-se uns dos outros. Suas pinceladas nos recebem nessa paisagem criando movimento, fazendo surgir em nós o som das passadas e de tudo aquilo que não vemos, mas que percebemos existir em tal cena. Na mesma toada, cruza o lobo-guará, personagem frequente nas paisagens do cerrado, bioma tão próximo à vivência pessoal do artista. Outros seres também perpassam as telas do pintor, deixando sua presença flertar entre o real e o imaginário e colocando a pintura de Rios mais uma vez em perspectiva. Ali também encontramos outras referências de seu ambiente pessoal, como a artemísia, planta aromática e arbustiva com características medicinais. Do céu, caem as estrelas de múltiplas cores, que sistematicamente aparecem em suas obras, relembrando-nos da conexão entre divino e terreno, já que somos todos filhos da terra, do fogo, da água e do ar.

CONTINUE A LEITURA

Ana Carolina Ralston

Renato Rios: O elefante e a safira

Uma robusta elefante fêmea adentra o quarto. De forma majestosa e descomplicada, posta-se no ambiente, ocupando quase sua totalidade. Na esguia tromba, o animal segura com delicadeza uma safira reluzente do tamanho de uma maçã, que irradia com tanta potência sua cor que torna azul tudo que a rodeia. Composta de pinceladas brancas e contornada por um fino aro roxo, a pedra preciosa endossa a teoria do alemão Josef Albers (1888-1976), de que nossa percepção da cor depende inteiramente do contexto a que somos expostos. A cena descrita acima ocorreu durante um sonho do artista brasiliense Renato Rios nos meses que antecederam a chegada de sua filha, Aurora. O enredo fantástico transformou-se em tela e agora nomeia também sua primeira individual como artista representado pela Galeria Estação. Na parede oposta, localizada também no mezanino do espaço expositivo, está Grande Espirito. A pintura de grandes dimensões, feita no mesmo azul lisérgico que reforça a destreza de Rios no estudo da cor, atrai o espectador em sua direção, como se pudéssemos penetrar no portal mágico que se abre ao encará-la. Seu título nos indica um dos caminhos possíveis para desvendá-lo. O Grande Espirito, também conhecido como Wakan Tanka entre muitas culturas originárias das Américas, fala sobre o divino, o grande mistério da vida e para além dela. O Grande Espírito tem sido, muitas vezes, conceitualizado com uma divindade que nos conecta à espiritualidade, manifestando-se como o som do universo que tudo permeia, ressoando na pintura do artista por meio de finos círculos cromáticos que parecem vibrar uma espécie de melodia. Entre as duas potentes pinturas desdobram-se de cada lado 36 telas de pequenos formatos. Cada uma delas repercute como uma nota musical e, juntas, elas compõem uma sinfonia de cores que se desenrola de forma continua, formando caminhos pelas laterais do espaço. Ao percorrê-las com nossos olhos, é como se nos déssemos conta de que tais telas nascem umas das outras em uma cadência poética e interconectada. Há um caráter instalativo na produção de Rios que se forma como um ouroboros, em que cada pintura nasce da outra, dando continuidade a um infinito circulo virtuoso. A expografia proposta pelo artista para os dois espaços da Galeria Estação enfatiza suas relações de experiência com a pintura. Enquanto a cor e sua abstração são protagonistas no mezanino, sugerindo uma vivência celestial ao espectador, no mundo terreno do andar térreo, Rios propõe um estudo cromático voltado aos universos vegetal, mineral e animal, trazendo-nos de volta às raízes. Dessa forma, vemos a cor como sujeito em diferentes formatos, como esgueirando-se por uma fresta ou frincha pela qual é possível acessar um lugar novo, um portal de contato entre sensações que circundam o céu e a terra. É por essa mesma passagem que também retornamos dessa experiência, em um movimento continuo de ingresso e egresso, como a sístole e a diástole de um coração. Assim, as pinturas de Rios são, cada uma delas, passagens, portais de chegada e partida, de e para pontos de infinitas possibilidades que a luz, a paisagem e os seres animados e inanimados que nascem de suas tintas nos proporcionam. A pintura para Rios é o lugar onde o artista se realiza enquanto sujeito. Tempo e espaço no qual congrega faculdades nos campos analíticos e nos diferentes fenômenos da percepção. A prática o leva a um certo estado de espirito que promove seu caminho de autoaprimoramento. Também é por meio dela que consegue convergir distintos mundos, reais e imaginários. Dessa forma, ela reforça seu papel agregador, que possibilita a ele celebrar e também sintetizar vivências. É por meio dessa mídia que conecta-se com seu eu mais íntimo, um campo espiritual criativo do que acredita ser o essencial à vida. Em seu pensamento e também em sua produção, Rios sugere a união entre natureza e cultura, dois conceitos que costumamos ter como díspares, quase diametralmente opostos. A modernidade pautou-se por anos na dicotomia dessa ideia, como se a partir da construção de algo que nos alimenta intelectualmente nos distanciássemos de nossa origem, a terra. Segundo Merleau-Ponty (1908-1961), “no homem, tudo é natural e tudo é fabricado”. Somos uma junção do natural com o cultural, e isso talvez seja a singularidade, e, por que não, a potência e o assombro do Homo sapiens. É na afluência desses dois territórios que brotam entre as camadas de cores sobrepostas cuidadosamente homens que aparecem como pontes entre esses dois universos que nos compõem. Seja em repouso, com olhar firme no horizonte, ou em ação, remando pelas águas, o humano tal qual retratado por Rios não nos leva ao sentimento de confronto, mas sim à harmonia da coexistência física e mental entre natural e cultural, como defende Merleau-Ponty. A consonância de universos ganha força em tais figuras, que sugerem um encontro de distintas etnias, referências e ancestralidades. As escolhas do artista vão ao encontro do pensamento de Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), que em sua visão cosmológica diz que um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outros, ao contrário. Ele passa a ser ele mesmo e muitos rios, fortalecendo-se. “Quando a gente se confluencia, a gente não deixa de ser a gente, a gente passa a ser a gente e outra gente – a gente rende. A confluência é uma força que aumenta, que amplia.” Tal confluência na produção de Rios une visualidades, conecta os mundos figurativo e abstrato. E, como afirma Bispo, essa comunhão não faz com que a obra perca a potência, muito pelo contrário, ela soma-se, ganha contornos, relampejos, nuances, sabores distintos que só aqueles que estudam profundamente a alquimia das tintas conseguem alcançar. Entre as milhares de possibilidade da terra, nasce uma centena de aromas possíveis, que transitam nesse espaço de luz e sombra. Primeiramente, reconhecemos a força e a beleza dos tons específicos concebidos por Rios. É necessário tempo para alcançarmos o grau de miscigenação proposto pelo artista e que o leva a chegar a tais efeitos. Sua pintura nos conduz ao encantamento, eterniza a fração de segundo do movimento do pincel. Como disse Guimarães Rosa por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967, “O mundo é mágico: as pessoas não morrem, ficam encantadas.” E assim são as figuras que ocupam as telas do artista. Nas camadas figurativas também encontramos os animais, constantes em sua produção artística. Notamos a caminhada da tropa de cavalos, o movimento de suas crinas, a forma com que curvam seus cascos, acercam-se uns dos outros. Suas pinceladas nos recebem nessa paisagem criando movimento, fazendo surgir em nós o som das passadas e de tudo aquilo que não vemos, mas que percebemos existir em tal cena. Na mesma toada, cruza o lobo-guará, personagem frequente nas paisagens do cerrado, bioma tão próximo à vivência pessoal do artista. Outros seres também perpassam as telas do pintor, deixando sua presença flertar entre o real e o imaginário e colocando a pintura de Rios mais uma vez em perspectiva. Ali também encontramos outras referências de seu ambiente pessoal, como a artemísia, planta aromática e arbustiva com características medicinais. Do céu, caem as estrelas de múltiplas cores, que sistematicamente aparecem em suas obras, relembrando-nos da conexão entre divino e terreno, já que somos todos filhos da terra, do fogo da água e do ar.

"O Renato nos escolheu.
Sim, Renato escolheu ser
representado pela
Galeria Estação, e esta
é a sua primeira
individual conosco."

Vilma Eid

  • Pintura Rafael Pereira
  • Pintura Rafael Pereira
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RENATIO RIOS INDIVIDUAL
Quando: de 25/03 a 30/04

Local: Galeria Estação

Endereço: Rua Ferreira de Araújo, 625 - Pinheiros, São Paulo

Abertura: 25/03 (segunda-feira), das 18h às 21h

 Horários de funcionamento da galeria: Segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h; não abre aos domingos

Contato: 11 3813-7253

Diretores

Vilma Eid

Roberto Eid Philipp


Textos

Ana Carolina Ralston
Vilma Eid

Produção

Rodrigo Casagrande 

Diretora Comercial

Giselli Gumiero


Diretora de Marketing

Luciana Baptista Philipp


Comunicação & Marketing

Zion Digital Marketing

Fotos 

João Liberato

Montagem

MIA - Montagem de instalações artísticas

Iluminação e apoio de produção

Marcos Vinícius dos Santos

Kléber José Azevedo


Assessoria de imprensa

Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo

Revisão

Otacílio Nunes


Tradução para inglês

Maria Fernanda Mazzuco

Fotos 

João Liberato

Montagem

Germana Monte-Mór e MIA - Montagem
de instalações artísticas

Iluminação e apoio de produção

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